Li críticos definindo o livro Abarat como uma mistura de ‘Alice no País das Maravilhas’ com ‘Harry Potter’. Concordo, acrescentando aí muito do universo recorrente nos livros de Michael Ende (como ‘A História Sem Fim’) e um quê de ‘O Mágico de Oz’. O mais interessante é ver como todos esses elementos infanto-juvenis ficam batidos no liquidificador do escritor inglês Clive Barker, que acrescenta o mesmo tom mórbido e o cinismo que são suas características mais marcantes (veja seu livro mais conhecido, ‘Hellraiser’, aquele que virou filme e tem como marca registrada um demônio com pregos fincados na cabeça – o Pinhead).

O resultado é interessante o suficiente, por exemplo, para justificar a compra, pela Disney, dos direitos de adaptação da história para o cinema, por assombrosos US$ 8 milhões — o filme chega às telas em 2005.

A semelhanças com a obra de Ende, o alemão criador de ‘A História Sem Fim’, ficam claras nas palavras do próprio Barker. “Em Abarat eu me mostro como realmente sou. Não o mestre do horror como me conhecem, mas alguém que sonha mesmo de olhos abertos“. Essa é a essência da obra de Ende e, como fica provado aqui, também a de Barker.

O livro é o primeiro de uma série idealizada para quatro romances (os outros três ainda estão sendo transportados da cabeça do autor para a tela do computador). A empolgação de Barker com a obra foi tanta que ele próprio é o responsável por todas as (várias) pinturas que ilustram as quase 500 páginas da obra.

O ponto de partida da história é a menina Candy Quackenbush, moradora de uma cidade rural do interior dos Estados Unidos, conhecida simplesmente pela grande quantidade de galinhas e sem qualquer outro atrativo. Ela é filha de um alcoólatra desempregado e de uma mulher que desistiu de seus sonhos e se conformou com uma vida sem perspectivas. Ela própria tem seus problemas: perseguida na escola por seus colegas, não se dá melhor com as professoras.

Em uma situação bizarra demais para ser contada aqui sem estragar a leitura, ela acaba sendo transportada para um mundo surreal: Abarat, um arquipélago composto por 25 ilhas. Cada uma vive em uma hora do dia. É isso mesmo: aqui, onde é quando. Há a ilha em que são duas da tarde, a ilha em que são três da manhã e aí por diante, até chegar na misteriosa 25ª ilha, que corresponderia à 25ª hora.

Lá ela conhece uma vasta lista de seres bizarros, até mórbidos, incluindo aí um ladrão de oito cabeças; um aprendiz de feiticeiro que anda pelas paredes; o maligno Cristóvão Carniça, o Lorde da Meia-Noite, que persegue a menina e até as Irmãs Fantomaya, três feiticeiras que parecem conhecer Candy há muito tempo e lhe dão conselhos enigmáticos. Candy aos poucos vai percebendo que sua história está ligada a Abarat há mais tempo do que ela imagina e que o futuro do arquipélago pode estar em suas mãos.

Publicado originalmente pela Harper Collins Publishers, Abarat é distribuído no Brasil pela editora Companhia das Letras.

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