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Ninguém esperava que a Editora Abril fosse comemorar os 40 anos de publicação do Tio Patinhas no Brasil com um presente tão importante para os leitores: trata-se de A Saga do Tio Patinhas, um primoroso trabalho de pesquisa, uma edição histórica com a trajetória completa do pato mais rico do mundo, cortesia do americano Keno Don Rosa, aprendiz do próprio mestre Carl Barks.
Vencedora do Prêmio Eisner (o Oscar dos quadrinhos) em 95, esta série realmente merece todos os elogios que recebeu até hoje. Pudera: Don Rosa não economizou esforços e estudou décadas e décadas de referências à história do passado de Patinhas, organizando cada mínimo detalhe cronologicamente e corrigindo pequenas incoerências históricas e narrativas nas histórias clássicas de Barks (criador do Pato Donald e do Tio Patinhas, entre outros seres famosos do mundo Disney). Como se não bastasse, ele ainda enviou cópias do material a outros estudiosos e colecionadores de todo mundo para garantir que a coisa toda fosse impecável. E como foi.
Conheça a história do último membro do Clã dos Patinhas, nascido na Escócia com um insaciável sede de conhecimento e ambição fora do comum. Acompanhe o garoto em sua jornada pela América, pela África, pela Austrália. Descubra como ele ganhou sua famigerada moedinha número um e como foi construída a inexpugnável caixa-forte onde fica toda a sua fortuna acumulada. Entenda como ele conheceu seus arqui-rivais, os irmãos Metralha, além dos terríveis Patacôncio e Pão-Duro Mac Mônei. E finalmente… seja apresentado ao pai e a mãe do irritadiço Pato Donald (nossa, só esta com certeza já valia a leitura).
Mas não se engane achando que se trata de material infantil: trata-se de uma leitura um tanto densa e cansativa para uma criança. Fora o fato de que o nível de detalhamento da arte de Don Rosa pede uma atenção especial a tudo que acontece no cenário ao redor e não só aos personagens principais de cada cena. A seqüência da morte da mãe de Patinhas, por exemplo, é fortíssima, inesperada num quadrinho com o padrão Disney de qualidade.
Mais um detalhe: independentemente de todas as críticas que os malas-sem-alça de plantão adoram fazer ao trabalho da Abril com quadrinhos (algumas vezes acertadamente, outras de maneira bem injusta), sou obrigado a admitir que sem a intervenção da editora nacional, este projeto não seria tão prazeroso de degustar como foi para mim. Afinal, no começo de cada capítulo, o próprio Don Rosa explica uma a uma as referências desta ou daquela passagem – com as devidas intervenções para que se saiba quando esta ou aquela história foi publicada no Brasil. Cada volume traz também a aguardada árvore genealógica do Clã Mac Patinhas e das famílias Pato e Patus, um mistério ao qual finalmente temos acesso depois de anos achando que a população de Patópolis nascia por geração espontânea…
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