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Artigo adicionado em 11/09/2003, às 04:14

Entrevista: MARCELO DEL DEBBIO
Um dos maiores nomes do RPG nacional conta tudo Quem costuma acessar A ARCA freqüentemente sabe que eu sou daquele tipo que não tem medo de polêmica e nem de falar o que pensa, independente do que uns e outros vão achar. Costumo respeitar as pessoas que também são assim, por mais que elas tenham […]

Por
Thiago "El Cid" Cardim


Quem costuma acessar A ARCA freqüentemente sabe que eu sou daquele tipo que não tem medo de polêmica e nem de falar o que pensa, independente do que uns e outros vão achar. Costumo respeitar as pessoas que também são assim, por mais que elas tenham a tendência de se tornar os inimigos públicos número 1. Aconteceu assim com o escritor Marcelo Del Debbio, desenvolvedor de RPGs 100% nacionais como o polêmico Trevas.

Polêmica, por sinal, é com ele mesmo. O cara coleciona uma verdadeira galeria de desafetos. Sei de muita gente que simplesmente odeia o sujeito. No entanto, foi só eu conhecer o cara para que qualquer impressão ruim fosse por água abaixo: ele é divertido, atencioso, inteligente. Gente boa mesmo.

Em um papo bem-humorado, Del Debbio conta como começou no mundo dos RPGs, fala um pouquinho sobre o sistema D20 e Vampire e ainda conta o que ele e a galera da Daemon Editora estão preparando para os próximos meses.

A ARCA: Quando e como foi que você começou a jogar RPG? Qual foi o sistema no qual você se ‘inaugurou’ como RPGista?
Marcelo Del Debbio: Foi em 1984 com o RPG do Marvel Super Heroes, que meu pai comprou por engano pensando que fosse alguma edição especial de super-heróis. A idéia de poder jogar e fazer a interpretação do Homem-Aranha ou do Hulk ao invés de apenas ler os HQs foi algo muito legal. Dentro do jogo tinha uma propaganda de um tal Advanced Dungeons & Dragons primeira edição, e a partir daí, não parei mais.

AA: E quando foi que surgiu a idéia de começar a escrever seus próprios RPGs?
MD: Quando voltei para o Brasil depois de um intercâmbio na Europa, percebi que não havia nenhum tipo de RPG que lidasse com Anjos e Demônios, ou com as mitologias da forma clássica. Todos os RPGs eram sobre “criaturas extraplanares” e coisas assim…

Na época, eu não sabia que era por causa de uma intensa perseguição religiosa que houve nos EUA, que forçou os editores a tornar seus jogos mais “politicamente corretos”. Em 92 alguns amigos e eu conseguimos publicar a primeira edição do TREVAS, no formato fanzine, graças ao esforço de muitos colegas da POLI-USP (entre eles o Norson, a Sandra, o Fabrício, Pirajá, Motta e muitos outros conhecidos no RPG brasileiro). Mas, como estudante, não haviam condições de tentar publicar nada, pois todas as editoras brasileiras que tentaram publicar algo nacional haviam falido e havia muito preconceito com material feito por brasileiros.

Em 95, eu ofereci o livro ARKANUN ao Marcelo Cassaro, editor da Dragão Brasil, e o convenci a publicar um RPG que fosse diferente dos que haviam no mercado. Um livro que misturasse RPG e mitologia real. Utilizando o sistema criado em 92, publicamos o ARKANUN e, mais tarde, o TREVAS, que foi um grande sucesso editorial, dando origem à toda a série de livros da Daemon (que hoje conta com 32 livros e 93 netbooks!).

AA: Como é o dia-a-dia comum do Marcelo Del Debbio?
MD: Eu acordo às 11h da manhã, almoço e vou trabalhar, com projetos arquitetônicos ou adiantar trechos de minha Enciclopédia de Mitologia (para quem não sabe, sou formado em arquitetura com especialização em História de Arte) até às 6h da tarde… assisto alguns animes na TV e vou pra academia de Kung-Fu até às 10h da noite (3 ou 4 vezes por semana, cinema no dia livre). Chego em casa, respondo os 30-40 e-mails de fãs e depois trabalho/mexo/jogo no computador até as 5h da manhã, aproveitando pra assistir um ou dois filmes na TV a cabo ou DVD enquanto trabalho. Sábado e domingo eu saio para a balada ou viajo pra algum evento ou palestra de RPG.

AA: Como você enxerga a atual situação do RPG nacional?
MD: Em desenvolvimento. Já passamos pela pior fase, que foi ano passado, com os problemas com Ouro Preto e toda aquela palhaçada de tentativa de proibição do RPG no Brasil e posterior censura dos títulos de RPG. Foi quase uma volta à ditadura…

AA: Como anda a aceitação do sistema Daemon por parte dos fãs?
MD: Excelente. Já somos o quarto sistema mais jogado no país (atrás apenas do D20, 3D&T e Storyteller) e a cada dia aumentamos mais e mais nossos fãs. Atualmente muitos dos mestres que estão se decepcionando com os RPGs mais voltados para campanhas de videogames, com muitos bônus e pouco roleplaying, têm passado a mestrar e jogar os livros da linha Arkanun. Com isso, tivemos muitos mestres com oito, nove anos de jogo nos ajudando e a quantidade e qualidade dos netbooks de nosso site aumentou bastante. Hoje são cerca de uma centena de livros para download gratuito, algo que não é encontrado em nenhuma outra editora de RPG e indica um grande carinho dos fãs em relação ao sistema.

AA: Você acha que ainda existe muito preconceito com relação aos RPGs nacionais?
MD: Hoje, graças à Daemon e à Dragão Brasil, que foram capazes de produzir jogos com a mesma qualidade dos livros gringos, quase não existe mais preconceito em relação ao RPG nacional. O problema é que os primeiros RPGs brasileiros eram péssimos e “queimaram o filme” do RPG nacional, então ainda existe gente por aí que não quer nem folhear os livros só porque eles “são brasileiros”. Felizmente, a grande maioria dos jogadores de RPG já passou dessa fase e estão abertos aos novos sistemas.

AA: Na minha opinião, o ‘Spiritum’ é uma das idéias mais criativas dos últimos anos – nem tanto pela ambientação, mas sim pela forma de interpretação que ele propõe. Como surgiu a idéia do livro?
MD: Não acho que a idéia “surgiu”. Na verdade, Spiritum é um dos livros finais de um projeto que já tem quase dez anos e um livro que já era muito esperado pelos fãs. O universo de Trevas sempre foi baseado em roleplaying, ao invés de resolver as coisas “na porrada” e talvez Spiritum seja uma síntese dessa maneira mais adulta de se jogar. Eu também vejo esse livro como uma espécie de “teia” que une todos os outros livros da coleção, mostrando pontos que eu deixei propositadamente obscuros em outros livros, como por exemplo Metrópolis (do livro ANJOS), Abismo (do livro DEMÔNIOS), Lanka (do livro VAMPIROS) e outros… dessa forma, Spiritum completa e complementa todos os outros livros, sem contudo estragar a surpresa de se ler os outros volumes da série. Recentemente, um mestre me disse que “quanto mais livros da série Arkanun você ler, mais você irá gostar do Spiritum” e eu acho que ele está certo.

AA: Na Daemon, vocês estão aceitando material de novos autores? Como um desenvolvedor de RPGs pode chegar a ter o seu próprio livro publicado por vocês?
MD: Sim, estamos. O primeiro passo é ter uma boa idéia. Não precisa ser muito elaborada, mas não adianta bater na porta da editora com 5 páginas de word escritas em times-new-roman-12 que isso não vai funcionar… para se ter uma chance, é preciso apresentar um projeto coerente, com 80-90 páginas prontas, com ambientação, personagens, novos kits, novos aprimoramentos… enfim, um “projeto”. Depois, o autor deve registrá-lo na biblioteca nacional e, uma vez detentor dos direitos autorais, nós estaremos autorizados a avaliar o projeto para publicação. Só este ano, publicaremos 4 livros de novos autores: Ragnarok, Akyremma, Cães de Guerra e Chamado, todos de excelente qualidade.

AA: E o D20? O que você achou da idéia de um sistema de regras genérico? Será que ele está ganhando tanto espaço quanto espera a Wizards of the Coast?
MD: O D20 está longe de ser um sistema genérico. Ele serve bem para campanhas medievais de Dungeon & Dragons, mas tem o grande mérito de dar suporte para pequenas editoras que não teriam nenhuma chance no mercado com sistemas próprios desconhecidos, mas que podem publicar “suplementos” para D&D e, desta forma, conseguir verba para decolar projetos mais interessantes. Acho que em breve ele deverá monopolizar o mercado americano mas acho que no Brasil a coisa vai ser bem mais equilibrada.

AA: Mas… será que o D20 vai mesmo significar a ruína de outros sistemas (GURPS, por exemplo), como apostam alguns catastrofistas?
MD: Acho que não, tanto que a Steve Jackson Games (editora do GURPS) continua produzindo seus títulos normalmente (leia entrevista com o próprio Steve Jackson clicando aqui). O D20 é uma proposta interessante para que as editoras possam mostrar seus produtos para o “grande público”, como por exemplo, Call of Cthulhu, que teve uma versão D20 e, com isso, conseguiu atrair a atenção de mais jogadores para seus livros, que não necessariamente sairão no D20 system. Acredito que, enquanto não sair um “Vampire D20”, o mundo não estará perdido (risos).

AA: Vamos falar um pouco do World of Darkness: já era mesmo a hora da ambientação passar por uma mudança? Esta Gehenna será benéfica, afinal de contas? (risos)
MD: Olha, como “concorrente” do WoD, afirmo que está sendo maravilhosa, pois muitos mestres ficaram cansados dessa história de “gehenna” e abandonaram o Storyteller em favor do Trevas, mas juro que não tenho uma opinião sobre isso ainda… prefiro esperar para ler os livros e ver o que eles resolveram aprontar (risos).

AA: O que o Marcelo Del Debbio tem na manga para os próximos meses?
MD: Nosso projeto de bancas de jornal, que começou com o Anime RPG e agora teremos o SUPERS e ANIME JAPÃO FEUDAL, que deve levar o RPG até os confins do país, com a competente distribuição da Dinap em bancas de jornal a um preço muito barato (graças às tiragens imensas, um livro que normalmente custa R$25,00 pode chegar a R$14,90 em bancas). Esse projeto deve ampliar o mercado, favorecendo a todas as editoras, não somente à Daemon. Existem outros projetos, claro, mas eles dependem do sucesso desse projeto inicial.

AA: Sempre que entro numa lista de discussão ou fórum nacional de RPG, vejo seu nome associado a alguma espécie de polêmica ou discussão. Por que? Você é do tipo encrenqueiro ou ‘ninguém tem paciência com o Del Debbio’ (parafraseando Chaves)? (risos)
MD: Mesmo? Faz muito tempo que não tenho tempo para listas de discussão na net. Mas realmente, teve uma fase onde haviam pequenos grupinhos na internet que achavam uma afronta um “RPG brazuca” estar se dando tão bem e desbancando os “idolatrados RPGs gringos” e começaram a espalhar todo tipo de boatos nas listas e fóruns, desde “Trevas é cópia de jogo X ou Y” (muitas vezes jogos que foram publicados DEPOIS do Trevas) até coisas como “o MDD é dono da Devir e está boicotando a publicação dos livros do GURPS em favor da linha Trevas”, entre outros absurdos. Como eu também não tenho paciência pra esse tipo de babaca, acabava mandando um ou outro deles à merda, o que, de certa forma, justifica a fama de encrenqueiro…

AA: Manda então uma mensagem para os seus inimigos (mais risos)
MD: Não tenho como… esqueci de memorizar o ritual de “conversar com os mortos” (risos).

AA: Você ainda se reúne com os amigos aos fins-de-semana pra jogar RPG? O que vocês jogam?
MD: Ainda me reúno com amigos, mas não tenho mais tempo para jogar RPG do jeito que eu gosto (com campanhas longas e extenso desenvolvimento dos personagens, com direito a diário de campanha e coisas assim). Não gosto de aventuras “one-shot”, então atualmente eu prefiro jogos de tabuleiro e estratégia ou jogos como “Once Upon a Time” ou “Barão de Munchausen”, que levam a idéia de “contar histórias” para outro patamar.

AA: Perguntinha básica: você consegue chamar os jogos de computador estilo ‘adventure’ de RPGs?
MD: Não. Embora eu adore jogos como Grand Theft Auto, Final Fantasy e outros, que tem uma história, personagens e enredo como um RPG, eu ainda acho que falta muito para que o computador consiga transformar os Adventures em verdadeiros jogos de RPG… talvez em uns 5, 10 anos…

AA: Se você tivesse que montar a sua própria ficha de personagem para RPG, qual seria a sua característica com mais pontos?
MD: Willpower, sem dúvida (risos)


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