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Artigo adicionado em 27/09/2003, às 02:08

Crítica: IRREVERSÍVEL
Um filme realmente perturbador Irreversível (Irreversiblé, 2002), novo filme do diretor argentino Gaspar Noe, começou a chamar a atenção durante o Festival de Cannes de 2003 não apenas pela participação da bela Monica Bellucci (de Matrix Reloaded). Espectadores saíam no meio da exibição, soltando impropérios contra o diretor e a película, principalmente devido à tão […]

Por
Paulo "Fanboy" Martini


Irreversível (Irreversiblé, 2002), novo filme do diretor argentino Gaspar Noe, começou a chamar a atenção durante o Festival de Cannes de 2003 não apenas pela participação da bela Monica Bellucci (de Matrix Reloaded). Espectadores saíam no meio da exibição, soltando impropérios contra o diretor e a película, principalmente devido à tão falada sequência de estupro, sofrido pela personagem de Bellucci, que dura mais de 10 minutos. Críticos de todo o mundo simplesmente destruíram o trabalho, acusando-o de uso de cenas gratuitas de violência e sexualidade.

Com a estréia do filme em algumas salas do circuito nacional, aproveito para dizer: o filme não é para fracos de estômago. E gerará muita discussão por aqui também.
:: O TEMPO DESTRÓI TUDO

É com a frase acima que o diretor e roteirista resume sua obra. E, assim, tudo é irreversível. Com isso, o diretor mostra como a vida do casal Marcus (Vincent Cassel, de O Pacto dos Lobos e Joana D´Arc de Luc Besson) e Alex (Bellucci) é destruída pelo acaso.

Para destacar ainda mais como o tempo é essencial na trama, Noe conta a história de trás para frente, usando o mesmo recurso empregado pelo diretor Christopher Nolan em seu filme Amnésia, mas sem o mistério e a tensão. Não há necessidade de se descobrir algo misterioso, fora do comum. Apenas como a situação chegou onde chegou. A desconstrução já começa com a exibição retrógrada dos letreiros finais, com diversas letras trocadas nos créditos.

:: OS PRIMEIROS 15 MINUTOS

O início do filme é um teste para o público, tanto de paciência quanto para o estômago. Vemos dois homens conversando, quando a frase “o tempo destrói tudo” é, então, citada. Eis que a câmera se move de dentro do apartamento e vemos Marcus sendo retirado de maca de um clube noturno.

O filme, então, nos leva a alguns minutos antes, quando Marcus acaba de entrar neste mesmo clube noturno, conhecido como ‘Rectum’, junto com seu amigo Pierre (Albert Dupontel, de Os Atores). Marcus, ensandecido, procura por alguém chamado Tenia. Mas o espectador só sabe disso porquê consegue ouvir as vozes dos personagens, já que o ambiente escuro, ajudado por uma câmera descontrolada, só produz borrões e vultos vermelhos e pretos na tela. A busca por Tenia é acompanhada por uma trilha sonora techno enlouquecedora. A sequência termina com uma demonstração de violência que deixará muitos espectadores com frio na espinha, tamanha frieza e detalhismo que o diretor empregou no desfecho. Violência gratuita?

O filme, então, vai voltando, aos poucos, e somos expostos às situações que levaram àquele momento.

:: O ESTUPRO

A cena que praticamente se transformou no carro-chefe publicitário do filme é a sequência em que a personagem de Bellucci é estuprada em um pequeno túnel de passagem por baixo de uma avenida movimentada. Alex tenta atravessar esperando uma folga na travessia dos carros, mas acaba escolhendo a via. Eis outro ponto que o diretor quer mostrar no filme: escolhas.

A sequência é realmente perturbadora. Os espectadores se transformam em cúmplice do maníaco, já que assistem a tudo e nada podem fazer diante da circunstância. Essa sensação se deve, principalmente, ao uso magistral da câmera. São 10 minutos, sem qualquer tipo de corte ou edição que possa dar tempo ao expectador de sequer piscar. A violência empregada e a completa falta de sentido – não é vingança, ou qualquer outro ato premeditado, apenas um encontro casual com um maníaco – transformam-se em 10 longos minutos de terror.

:: PASSADO DE ESPERANÇA, FUTURO DESTRUÍDO

O filme é de uma frieza e realismo exacerbado. E é discutível o uso de cenas desta maneira no filme, já que é possível transmitir um sentimento ao público de maneiras mais sutis. Eu mesmo, enquanto assistia, era tomado por reações de nojo e terror.

O roteiro não é feito para nos levar a questionamentos. O que ele pretende, a meu ver, é apenas mostrar situações que podem acontecer. As sensações são rasas, visuais. É um mundo nojento, corrompido, imoral. E nada melhor para mostrar isso do que usar tanto apelo visual. O futuro é podre. O tempo destrói tudo, e o diretor deixa isso bem claro, mesmo que o passado houvesse amor, companheirismo. E até mesmo uma promessa de dias melhores. Mas o tempo destrói tudo. E apenas os mais fortes de estômago aguentarão até o fim da sessão.


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