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Artigo adicionado em 06/07/2003, às 11:25

Ren & Stimpy
Happy, Happy, Joy, Joy prá vocês! Os Simpsons é a produção comumente associada ao binônimo “desenhos que agradam aos adultos e às crianças”. Porém, Homer, Bart e Lisa não foram os únicos personagens a terem iniciado esse processo. No início dos anos 90 estreou um desenho animado que mudou a cara dos cartoons para sempre […]

Por
Marcus "Garrettimus" Garrett


Os Simpsons é a produção comumente associada ao binônimo “desenhos que agradam aos adultos e às crianças”. Porém, Homer, Bart e Lisa não foram os únicos personagens a terem iniciado esse processo. No início dos anos 90 estreou um desenho animado que mudou a cara dos cartoons para sempre e que, conforme a criação de Matt Groening, também foi o pioneiro dos temas mais adultos e controversos.

The Ren & Stimpy Show” foi ao ar pela primeira vez em 1991, encomendado pela Nickelodeon, e tem mostrado as aventuras dum raquítico cão Chihuahua, Ren, e do amigo, Stimpy, um gato gordo e desajeitado. Os argumentos narram o dia-a-dia dos dois, ora em busca de comida, ora tentando levar vantagem sobre alguém ou sobre alguma situação. Ren Höek (o criador dos personagens escolheu esse nome por acaso, pois era o nome do zelador do prédio em que morava na época), comumente chamado apenas de Ren, é o espertinho da dupla. Magricela, egoísta, pragmático e interesseiro, ele não dá folga ao amigo felino. Stimpy (Stimpson J. Cat), por sua vez, é bondoso, além de sonhador e de atrapalhado. Ambos são a antítese mútua.

Os personagens, criados por John Kricfalusi (canadense radicado nos Estados Unidos), deram origem à escatologia televisiva tão popular nas produções atuais, como nos casos de “A Vaca e o Frango” e de “South Park”. Vômitos, escarros, “gases”, melecas, verrugas, babas, feridas, veias pulando e toda a sorte de sacrilégios compõem o cotidiano de Ren e de Stimpy. E isso não é tudo! Toda essa beleza pode ser observada em close e nos mínimos detalhes. Leitor, não fique aterrorizado ante a esse fato, pois um dos méritos do desenho é justamente tornar esses exageros em coisas engraçadas, colocando-os em momentos certos (ou incertos!) e condizentes com as narrativas. É a arte do absurdo! É como se, por exemplo, Salvador Dalí estivesse por trás da tela da tevê.

Um dos exemplos dessa escatologia repousa numa cena em que uma escoteira oferece bolachas caseiras para Ren. O cão (que mais se parece com um rato!), muito a contragosto, aceita a oferta e come as bolachas, mas “devolve” tudo no saquinho e o entrega de volta à menininha. A finesse dessa seqüência me fez rir por trinta minutos ininterruptos. Esse tipo de humor negro, ausente às produções similares da época, acabou virando marca registrada da maioria dos desenhos exibidos atualmente pelo Cartoon Network. Todavia, a escatologia não é a única marca registrada da criação de John K. (assim apelidado carinhosamente pelos fãs). As críticas embutidas nos episódios da série são outro ponto forte; elas funcionam quando o espectador presta um pouco mais de atenção ao enredo ou quando tem um pouco mais de percepção das coisas. Foi isso, aliás, o que caracterizou Ren & Stimpy como não apenas mais um desenho animado qualquer.

Há, por exemplo, um episódio em que Stimpy quer comprar todos os produtos anunciados por aqueles famosos programas de tevê do tipo “ligue para 011 140*”. Noutro, Stimpy acaba dentro do próprio umbigo e lá encontra um mundo plástico-musical (clara alusão às drogas e aos anos 70). Numa das histórias mais cômicas de todas, Ren, ao brincar com um daqueles conjuntos de química infantis, acaba sofrendo uma mutação através da qual o próprio corpo dividiu-se em dois: no Ren “malvado” e no Ren “apático”. Outro detalhe importante que passa despercebido para a maioria dos telespectadores é o homossexualismo dissimulado existente entre os personagens principais. Está chocado? Assista aos episódios e tire suas próprias conclusões!

Devido ao paradigma um tanto quanto fora do comum, Ren & Stimpy era, muitas vezes, proibido de ser visto, pois nenhum pai “são” permitiria a um filho assistir a tudo aquilo, ainda que o público alvo fossem, em tese, as crianças. De fato, os executivos da Nickelodeon viviam editando os episódios da primeira temporada – já prontos – porque muitas das piadas originalmente criadas, segundo eles, eram “fortes” de mais. Esse fato culminou com desentendimentos homéricos entre as partes e com a demissão de Bob Camp, o braço direito de Krickfalusi, que além de criador era dono do estúdio no qual o desenho foi inicialmente feito: Spumco. A Nickelodeon tanto fez que conseguiu demitir John K. em 1992, tendo criado o próprio estúdio para prover a continuidade dos desenhos e tendo colocado Bob Camp – foi “recontratado” – a cargo de tudo. Apesar desse fato, a série foi adorada e cultuada por muitos que perceberam a “genialidade” da coisa. Os fãs mais árduos, contudo, insistem: Ren & Stimpy, sem John K, nunca mais foi o mesmo.

Outro fator marcante são as vozes. As interpretações são hilárias. John K. em pessoa dublou Ren durante a primeira e a segunda temporadas. A interpretação dada, conforme conta, foi inspirada por falas dos atores Peter Lorre, Burl Ives e Kirk Douglas, embora alguns fãs encontrem sotaque mexicano no personagem. Felizmente, após a demissão do criador, Billy West – o dublador de Stimpy – assumiu os dois papéis. Billy fez a voz de Stimpy durante toda a série (a voz dele também pode ser ouvida em “Futurama”, desenho no qual dublou o personagem Fry) e se deu muito bem. A voz de Ren, ainda bem, não foi entregue a qualquer um.

A dublagem brasileira, a propósito, é um show à parte. Apesar da imensa dificuldade de se dublar os personagens principais (por causa das vozes extremamente caricatas e das onomatopéias), os dubladores fizeram um trabalho excepcional. O desenho foi dublado na Audionews, no Rio de Janeiro. Ren foi dublado por Marco Ribeiro, que, dentre outros trabalhos, dublou o Dylan (da série “Barrados no Baile”) e o Rafael (do desenho “Tartarugas Ninjas”). Stimpy foi dublado por Marco Antonio, que já dublou o ator George Clooney e o personagem Plucky Duck. Márcio Seixas, a bela voz do Batman (do desenho animado homônimo), fez as locuções. Parabéns à essa equipe! Parabéns também ao dublador Manolo Rey (a voz de Will Smith na série “O Maluco no Pedaço”), responsável pela tradução e pela versão brasileira.

Aqui cabe uma curiosidade: os amantes do blues certamente encontrarão um atrativo a mais em Ren & Stimpy, pois a série está recheada de temas bluesísticos. Os próprios temas de abertura e de encerramento são exemplos formidáveis. A trilha sonora é muito boa! Há, também, muitos temas eruditos, tais como “Clair de Lune” (de Debussy).

Infelizmente, após mais de 40 episódios a série foi cancelada em 1995. Mas é muito fácil reconhecer a influência do desenho nas produções atuais (conforme citei anteriormente). Se Ren & Stimpy não existisse, dificilmente teríamos os tão adorados Cartoon Cartoons; não da forma como se apresentam hoje.

O desenho está sendo exibido diariamente pelo canal Nickelodeon, às 14:30, e também pelo canal Locomotion à meia-noite.

Se seu pai “deixar”, assista aos episódios de Ren & Stimpy. Mas prepare o fôlego para boas e intermináveis risadas!


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