Fato: E.T. é um dos poucos filmes a ter permanecido recordista de bilheteria durante tanto tempo a película é de 82. A história do extraterrestre perdido no planeta Terra e de suas aventuras ao lado dos amigos humanos encantou o mundo naqueles idos. Assim como o alienígena apaixonou-se pela Terra, os humanos apaixonaram-se pela bizarra criação do artista italiano Carlo Rambaldi.
Steven Spielberg, diretor da obra-prima, cansou-se certamente de tanto ter escutado as mesmas perguntas proferidas incansáveis vezes: Sr. Spielberg, quando produzirá a continuação de E.T.? ou Elliott visitará o planeta dele?. Esses questionamentos, de fato, têm povoado as mentes dos inúmeros fãs daquele simpático humanóide até os dias de hoje.
E.T. Parte II?
O próprio Spielberg pensou sobre essa seqüência, tanto que um roteiro foi escrito. Apesar das eventuais pressões hollywoodianas e da tentação de um novo recorde de bilheteria, essa segunda parte nunca chegou a ser filmada. Os motivos parecem óbvios: Alata Zerka, o planeta-natal do simpático alienígena, exigiria enormes quantias monetárias a fim de ser reproduzido nas telas, além de muita criatividade dos magos dos efeitos especiais ser requisitada. Se nos dias de hoje a criação do referido planeta é algo trabalhoso, que dizer dessa tarefa em meados dos anos oitenta? O outro motivo tem a ver com a inalteração do sentimento gerado pelo filme original, por meio do qual E.T. – na mente de Spielberg – deve manter-se intocado, imaculado.
E.T.: The Book of the Green Planet
A continuação da história aconteceu eventualmente em 1985, porém, para o desagrado dos fãs, deu-se apenas no mundo literário. William Kotzwinkle, notável ganhador dos prêmios National Magazine for Fiction e World Fantasy, escreveu a tão esperada continuação a partir das idéias de Spielberg. O resultado é o livro E.T.: The Book of the Green Planet, publicado no Brasil pela Record, editora Carioca.
E.T. no Planeta Verde, conforme o título brasileiro, narra a continuação da aventura iniciada na Terra, através da qual E.T. partiu de nosso planeta em direção ao Cosmo e retornou à origem. Alata Zerka, o planeta de duas luas e repleto de vida vegetal, não nega o próprio nome; assim como a Terra foi batizada de Planeta Azul – devido à profusão oceânica – o lar do alienígena é chamado como tal por causa do verde abundante. Lá a vida vegetal é inteligente e sensível, mesmo porque o planeta é um centro botânico universal. Ao contrário da natureza Terrestre, a vida vegetal Alatiana atingiu níveis inimagináveis de complexidade, de interação e de beleza.
O Cosmólogo
Ouve-se constantemente a afirmação através da qual as pessoas tomam E.T. por uma criança alienígena. Nas primeiras páginas do livro, constatamos o contrário: a criatura é um perito em Cosmologia (estudo do Cosmo) e um dr. Botânico de Primeira Classe, motivo pelo qual integra naves espaciais de pesquisa intergaláctica. Ele é um ser deveras respeitado, tamanhas descobertas e inovações proporcionou.
A raça de E.T. é uma das mais antigas do universo e a contagem da vida daqueles seres se realiza em Eras, não em anos ou em séculos. Diferentemente dos humanos, seres como o E.T. (*) guardam a sabedoria não somente nos cérebros, mas nos corações; o coração não serve apenas ao intuito de manter a vida, mas também de armazenar sabedoria acumulada através do tempo.
Os alienígenas do Planeta Verde têm uma curiosa capacidade de relação com o meio-ambiente: sentem e interagem não somente em âmbito físico, mas em modos mais sutis como o pensamento e como a vibração corpórea (aura). Essa capacidade sobre-humana aumenta proporcionalmente à razão do tempo de vida.
E.T., aliás, não é a única criatura inteligente do planeta!
Alata Zerka: o jardim botânico do Universo
O planeta em questão repousa nos confins do universo, segundo os padrões humanos. Existe uma cena antológica do filme em que as crianças – Elliott, Michael e Gertie questionaram E.T. sobre a localização do planeta dele. É fácil perceber o porque da resposta a essa questão não ter sido dada: Alata Zerka se localiza noutra galáxia, muito distante, atingida comumente através da passagem de um Continuum ao outro da existência. Viagens ao planeta de E.T. são realizadas através de Portões Dimensionais espalhados pelo espaço, pois são a única maneira das grandes distâncias serem galgadas. Como isso poderia ter sido explicado às crianças? O simpático alienígena só sabia dizer El-li-ott…
No Planeta Verde são reunidas todas as espécies existentes no Cosmo. As plantas são estudadas e cultivadas com muito carinho, respeito e apreciação. Porém, isso não é tudo! Os cientistas botânicos dirigem complicados estudos genético-energéticos, bem como alteram o mundo vegetal e criam novas formas de vida. Há toda sorte de vida verde no planeta: árvores saltitantes, plantas voadoras, raízes musicais, flores calmantes, plantas gigantes protetoras (como os nossos cães de guarda); há de tudo! Nas sábias palavras de E.T.: Uma flor é a geometria do universo.
Habitam o planeta tipos curiosos. Além da raça de E.T., há os Microtécnicos. São pequeninas criaturas de no máximo trinta centímetros – dotadas de centenas de dedos capazes da execução das mais difíceis operações (eis o motivo do nome lhes dado). As peles deles são esbranquiçadas quase transparentes e possuem cabeças grandes quando comparadas aos corpos. Por causa da habilidade inata, os Microtécnicos trabalham nos reparos de equipamentos e especialmente nas manutenções das grandes naves espaciais. Eles são orgulhosos, exigentes e têm uma curiosa obsessão por limpeza e por organização. Interessante, pois já vi tipos assim na Terra!
Os Igigi Gyrum Hadahadeba são outra forma de vida inteligente. Conforme a descrição do próprio livro: …que significa seiscentas vértebras na espinha. Mas todo mundo no planeta as chamava simplesmente de Gomamoles, pois um de seus modos de caminhar era arrastar-se como uma substância grudenta e mole, com a base em formato de tripé. Pareciam mais uma pilha de meias moles cinzentas. Eram muito velozes, muito ágeis, muito estúpidas e adoráveis. No decorrer da leitura, contudo, o leitor perceberá um certo mistério peculiar a essas criaturas, pois são mais do que aparentam ser.
Os Donos da Mente, assim como são chamados, são as formas de vida supremas. Apesar da semelhança para com E.T., a forma fluida dos corpos dessas criaturas é algo notório. São, conforme o livro nos mostra: …mente pura numa membrana fina, que altera a forma de acordo com a necessidade. Conheciam a fundo as ciências supremas, eram criaturas de enorme paciência e poder.
A evolução natural da raça de E.T. leva os seres a transformarem-se após certo estágio da vida, chamado de O Segundo Estágio do Crescimento. No tal estágio, a estatura mental provoca a transformação do corpo físico, por meio da qual o ser cresce, torna-se esbelto e elegante. O pai (**) de E.T. é um dos exemplos desse ser pleno.
A arquitetura do planeta parece bem diversificada. De fato, há dois tipos básicos de construções. Num dos tipos as moradias são construídas a partir da própria forma orgânico-vegetal disponível. Nesses casos as residências são como cabaças gigantes mobiliadas de igual forma e iluminadas por criaturas batizadas de Lumens (tipo de lesma brilhante presa ao teto ou transportada aos aposentos); a casa do pai de E.T. exemplifica essa espécie de morada. Na outra forma elas são similares às da Terra artificiais com grandes prédios e construções brilhantes. Crystellum, a grande capital do planeta, é o exemplo. O fator mais interessante é a inexistência de conflito entre os dois tipos, porque tudo parece se encaixar numa perfeita simbiose, de alguma forma.
El-li-ott e os Terráqueos
Há milhões de quilômetros do Planeta Verde os amigos Terráqueos de E.T. estão um pouco mudados… Mas nem todos!
Elliott crescera e encontra-se cursando o Ginásio. Os interesses do garoto foram ligeiramente modificados: só pensa em jogar fliperama, em computadores e, em especial, na bela garota Julie, por quem está secretamente apaixonado.
Michael, o irmão mais velho, está prestes a integrar um time universitário de futebol americano e se prepara para fazer bonito no teste.
Gertie… Bem, Gertie não mudou nada!
Mary, a mãe ainda solitária, procura desesperadamente por um pai para as crianças, por um marido para ela. Fantasia com qualquer homem que veja à frente, dotado de um mínimo de simpatia: imagina-se com os pretendentes no sofá do lar a assistir televisão na companhia dela.
E.T. volta para casa
A história começa, realmente, a partir do ponto de encerramento do filme. Logo de início, o leitor acompanha a perseguição da nave alienígena por caças da força aérea norte-americana. Tudo em vão, é claro!
E.T., cabisbaixo, foi até a ala de botânica da nave e ficou a contemplar o Gerânio (***) lhe dado por Gertie. Em meio aos pensamentos do alienígena, nem desconfia do futuro lhe reservado: o rebaixamento. O doutor em botânica foi sumariamente rebaixado de seu posto, pois, afinal, perdeu-se na Terra e atrasou a missão daquela equipe de vôo da qual faz parte. Foi confinado aos próprios aposentos.
Por meio do processo de auto-hipnose, E.T. dormiu por um longo período até findas todas as missões programadas da nave espacial. Ao retornar a Alata Zerka, o alienígena nutriu esperanças de ser reconhecido pela aventura vivida no Planeta Azul daria palestras e cursos sobre a cultura, sobre o idioma e sobre os costumes da Terra contudo, acabou entregue ao antigo lar: uma área agrícola, espécie de fazenda, utilizada pelos aprendizes de botânica e dirigida por Botanicus, antigo mestre e professor de E.T. Ele… De volta à estaca zero!
Botanicus é uma criatura extremamente evoluída e desenvolvida mentalmente, e exerce profunda influência sobre o mundo vegetal. Encontra-se no segundo estágio de crescimento (explicado anteriormente) e também possui a famigerada luz nos dedos. As tais luzes, a exemplo de E.T. (detentor de apenas uma), têm a ver com o grau de sabedoria e de conhecimento de determinado ser, e também com o fato desse ter concluído algum grande feito no decorrer da própria existência. Botanicus, o grande mestre, tem 10 luzes: uma para cada dedo das mãos.
Reencontro com amigos
Na fazenda, E.T. se reencontrou com o antigo amigo, um Gomamole. O veloz amigo atrapalhado esteve muito saudoso do botânico e festejou ao reencontrá-lo. E.T. se reencontrou, também, com o próprio pai, por quem é deveras admirado e a quem ama muito.
Há muito humor no livro, verdade! As revelações de E.T. aos conterrâneos são estarrecedoras, pois o leitor não sabe se são verdadeiras ou se são gozação. Ele, por exemplo, diz que as crianças são os governantes da Terra, pois são extremamente sábias e sensíveis. Diz, também, que o Halloween é uma das grandes festas do Planeta Azul e que as balas são o principal alimento da Humanidade. Ele, de forma curiosa, afirmou ter ficado num compartimento especial chamado de armário. Quanta honra!
Outra coisa engraçada é o emprego de palavras Terrestres no dia-a-dia do Planeta Verde. E.T. vive dizendo: ai, seja bom, dar o fora e coisas do tipo. Apesar de ninguém compreendê-lo, essas expressões são usadas em demasia. Quantas saudades de Elliott e dos amigos!
Fazendo contato
A saudade foi o combustível de E.T., pois a partir do regresso ao Planeta Verde tentou o contato telepático com Elliott. O alienígena passou a produzir réplicas telepáticas de si próprio, enviadas à Terra por meio do poder mental dele. Infelizmente, tais réplicas têm curto período de vida e, portanto, precisam atingir o alvo muito rapidamente a fim de que sejam percebidas. Elas e isso é outro agravante são muito pequenas e medem poucos centímetros de altura.
Num curto espaço de tempo, E.T. constatou algo terrível: Elliott não recebia as mensagens telepáticas. O que estaria havendo? Ora a réplica era jogada longe, chutada por um estranho despercebido, ora caía em lugar inapropriado e era esquecida. Pudera! Elliott, enamorado que estava, só tinha olhos para Julie.
E.T. compreendeu a situação, ela era simples e drástica: Elliott virava adulto. O alienígena conhecia os adultos da Terra e sabia que lhes falta sabedoria. Na visão dele, as crianças perdem a sensibilidade ao tornarem-se grandes. Elliott precisa de ajuda!
O ladrão de naves
Após uma conversa com o amigo Gomamole, E.T. começou a arquitetar um plano para tomar emprestada uma espaçonave de Lucidullum (cidade próxima à fazenda) para ir à Terra. Por sorte, E.T. se reencontrou com um Microtécnico do qual é amigo e lhe revelou a intenção. Mícron, o pequeno Microtécnico, também estivera saudoso de um planeta visitado por ele há tempos e do qual guarda um instrumento musical, e muita saudade. Os três estavam certos do que devia ser feito… Cada qual visitaria um planeta diferente com o auxílio do outro e Gomamole os acompanharia.
E.T. arriscou-se e pediu ajuda para algumas criaturas proscritas; esquecidos seres viventes no subterrâneo do planeta. São antigos comandantes de naves espaciais e possuidores de enorme conhecimento de navegação, mas também têm um sentimento esquecido há eras: a ganância pelo poder. Occulta, Electrum e Sinistro, seres dotados de corpos metálicos (os senhores do escuro), integrariam a tripulação!
Infelizmente, após muita confusão o seqüestro da nave falhou e foram todos pegos. E.T. fora novamente rebaixado e seus novos amigos devolvidos ao mundo da escuridão. Ele ficou profundamente envergonhado por causa da tentativa de roubo e por ter envolvido os amigos no processo. Roubo, no Planeta Verde, era um mal não praticado há eras…
O segredo de Botanicus
De volta à fazenda, E.T. sentia-se envergonhado e desanimado, mesmo porque nem as réplicas enviadas à Terra surtiam efeito. Num bate-papo com o antigo mestre, lhe foi falado acerca da impossibilidade de roubo de uma nave espacial daquelas, mas também lhe foi revelado o fato de o Jardim de Botanicus possuir diversos segredos escondidos. O pequeno alienígena teria as respostas das quais necessitava bem ali… Elliott, afinal, seria revisto pelo amigo?
O Desfecho
Seria péssimo de minha parte lhes revelar mais desse livro. Ele deve ser lido, pois, num mínimo, é garantia de excelente diversão. Ademais, é uma forma dos fãs matarem as curiosidades sobre a continuação dos eventos principiados no filme. O Planeta Verde é exuberante, mágico e curioso, assim como as criaturas que lá habitam o são. O livro é, além dum fascinante tratado de Exobiologia (****), um conto repleto de humor, de emoção, de alegria e de sensibilidade.
O amor puro e verdadeiro, a beleza da infância, a capacidade da fé e a noção de que, embora sejamos milhões de seres, cada um de nós é único e especial, são detalhes muito presentes à obra.
A conclusão de E.T. no Planeta Verde é surpreendente e, ainda assim, deixa uma enorme janela para as imaginações dos leitores. Num final lindo, a maior mensagem presente no livro: o bem universal mais importante de todos é o AMOR.
(*) Em nenhum momento do livro foi especificado o nome da raça. (**) E.T. parece ser hermafrodita, pois não há referência à existência da mãe. (***) Planta dada ao E.T. por Gertie ao término do filme. (****) Ciência que estuda possíveis formas de vida extraterrestres.
Agradecimento: As imagens das criaturas do planeta de E.T. foram feitas exclusivamente para esta matéria pelo amigo e irmão Guilherme Briggs. Além de desenhista de mão-cheia, Briggs é um dos melhores dubladores do Brasil na atualidade, dando sua voz a personagens como Freakazoid, Babão (de Eu Sou o Máximo), Samurai Jack e o Super-Homem da nova série animada da Liga da Justiça.
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