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Artigo adicionado em 22/01/2003, às 02:09

MAURO RAMOS REVELA SEUS SEGREDOS
Se você assiste Cartoon Network, esta voz é uma velha conhecida! Ele é o misterioso Abu, de Samurai Jack! Também é o doce Pumbaa, de O Rei Leão! Sully, de Monstros S. A.: ele também é! E ele… é Mauro Ramos, um dos melhores e mais reconhecidos dubladores da atualidade! Tive a honra de entrevistá-lo […]

Por
Marcus "Garrettimus" Garrett


Ele é o misterioso Abu, de Samurai Jack! Também é o doce Pumbaa, de O Rei Leão! Sully, de Monstros S. A.: ele também é! E ele… é Mauro Ramos, um dos melhores e mais reconhecidos dubladores da atualidade! Tive a honra de entrevistá-lo em primeira mão pr’A ARCA! Divirtam-se!

A ARCA: Mauro, conte-nos como iniciou na profissão de dublador. Em quais circunstâncias começou a dublar? Foi muito difícil no início?

Mauro Ramos: Como dublador, comecei em 1989, pelas mãos do meu padrinho e grande amigo Mário Monjardim, que me deu uma força a pedido de uma amiga em comum, Cordélia Santos, rádio-atriz da SuperRádio Tupi do Rio. Nos conhecemos nos estúdios de um programa ao vivo onde eu escrevia e atuava – Patrulha da Cidade – quando o “Monja” foi substituir um colega nosso que havia entrado de férias. Devo muito a ele, que acreditou no meu potencial, assim como Orlando Drummond, Francisco José, Garcia Neto, Ângela Bonnatti, Sônia Ferreira, Sumara Louise e outros colegas, que com o passar do tempo me deram excelentes oportunidades. Na época foi muito difícil. Nunca havia dublado na vida, mesmo tendo um interesse pelas vozes dos seriados e desenhos animados que assisti na infância e adolescência. O círculo era muito fechado e a seleção natural muito exigente. Mas a dublagem sempre nos traz desafios diários.

AA: Quais foram seus primeiros trabalhos?

MR: Eu não sou um cara que me lembro das coisas que faço… Foram muitos, tenho certeza… Meus primeiros trabalhos foram os chamados “Obas e Olás“, mas o primeiro fixo em desenho foi substituindo o Márcio Simões numa personagem do de COPS e o primeiro protagonista de longa foi no filme “A Mulher do Chefe”, substituindo o Hélio Ribeiro, que não pôde fazer na ocasião.

AA: Há pouco mais de um mês estreou um novo desenho animado na Cartoon Network: Samurai Jack. Você dubla o arquiinimigo de Jack: Abu (Aku no original). Por favor, conte-nos sobre como bolou a interpretação dada a esse personagem tão misterioso e intrigante. Baseou-se um pouco na dublagem original? Fez teste para o personagem, como de costume?

MR: Foram feitos testes na ocasião… Geralmente, eu procuro ser o mais fiel possível ao original e depois vou acrescentando referenciais sonoros mais familiares à memória auditiva coletiva… Por incrível que pareça, uma inspiração minha neste caso foi o falecido apresentador Bolinha, que apresentava um programa aos sábados chamado “O Clube do Bolinha”…

AA: Aproveitemos a questão anterior: Guilherme Briggs é o dublador do Samurai Jack. Como é sua relação com ele? São amigos?

MR: Somos irmãos… Guilherme é um cara talentosíssimo, de boa índole e muito querido por minha família também… Somos muito francos um com o outro e procuramos nos respeitar e nos querer-bem com sinceridade… Sem frescuras… Aprendo muito com ele…

AA: Outro desenho da Cartoon Network acabou de estrear, o esquisito “Diabólico e Sinistro: O Show”, no qual interpreta o vilão “Heitor Ado”. É verdade o fato de ter sugerido ao diretor uma alteração no contexto do desenho, através da qual a origem desse vilão foi alterada? (o vilão é um ditador latino, contudo, o sotaque impingido por você é claramente germânico). Por favor, conte-nos sobre essa nova produção da Cartoon Network. Sua interpretação de Heitor Ado está hilária!

MR:Sugeri ao Lauro Fabiano, quando fui fazer o teste para o Heitor Ado, modificar o referencial sonoro porque, pra eles dos Estados Unidos, nós somos Terceiro Mundo e ridículos, “cucarachas” mesmo… Eis que pra nós, que nos conhecemos, não tem nada a ver um ditador sul-americano ser engraçado, porque sofremos muito com esses ditadores e não foi nada engraçado pra nossas nações… Para nós, o referencial ridículo de sotaque ainda é o ditador europeu, que sacaneamos muito na Segunda Guerra Mundial… Então, quando falamos em ditadores ridículos (não pelo que fizeram, mas pelo comportamento deles) lembramos sempre da figurinha do Hitler, vulgo Adolfinha… Daí a sugestão… E o pessoal gostou… E obrigado pelo elogio… Valeu!

“Heitor Ado” (personagem do desenho “Mal Encarnado”) é um ditador sul-americano que perde o corpo em um acidente e são colocados, para continuar vivendo, seu cérebro e estômago em bolhas de animação, utilizando-se um urso completamente idiota como fonte vital para a sobrevivência dos órgãos em questão. Adoro fazer a personagem, como também adoro fazer a bichona enlatada do Esquadrão do Tempo!!!

AA: Na dublagem do desenho Monstros S. A. – no qual você dublou o monstro Sully – pudemos vê-lo, ou melhor, ouvi-lo cantar. Além da dublagem, o Mauro Ramos também canta na vida real? Que outros talentos você tem? Também é locutor?

MR:Já cantei na noite, já fiz locução em rádio, sou redator, desenho e, graças a Deus, já fiz muitos desenhos cantando… O Rei Leão, A Bela e a Fera (substituindo o falecido Ivon Curi em O Natal da Bela e a Fera e na canção acrescentada ao novo DVD do desenho), O Corcunda de Notre Dame, James e o Pêssego Gigante, O Príncipe do Egito, Anastácia, etc…

AA: Você dublou um dos personagens mais queridos das crianças: o Javali “Pumbaa” em O Rei Leão. Você é assediado pelas crianças? Também é uma criança, Mauro?

MR:È a personagem por quem tenho mais carinho… Meu primeiro papel pra Disney… Foi com ele que eu redescobri a criança que havia ainda em mim… Mas já fui mais criança… Depois de muitos acontecimentos em minha vida, a criança se perdeu um pouquinho… Não só crianças, como mães de crianças e principalmente minha médica, que sempre que fala comigo me pede pra dizer aquela frase do filme, onde o Pumbaa, estranhamente sério, diz: “Porco, não!!! SENHOR PORCO!!!” E ataca as hienas… Mas estou habituado com o assédio das crianças desde a época de TV COLOSSO… Elas são sinceras e um público muito exigente… (risos).

AA: Ainda sobre a Disney, qual sua opinião sobre a qualidade de dublagem para as produções dela? Garcia Jr., o diretor de dublagem da Disney, é muito exigente? Como é dublar personagens da Disney?

MR:A dublagem brasileira é comumente utilizada pela Disney como padrão de qualidade… Direção de dublagem no Brasil para a Disney, primeiro com Telmo de Avelar e depois com Garcia Júnior, sempre primou pela qualidade, não poupando dinheiro nem esforços para se fazer uma boa adaptação e uma boa interpretação dos atores… Garcia é uma pessoa cuja direção é segura, porque ele, assim como Telmo, não só supervisiona a escolha do elenco, como também traduz e adapta… Dublar personagens da Disney é uma honra, pois está no nosso imaginário desde que nos conhecemos por gente… Nos primeiros trabalhos a gente se emociona, de ficar nervoso mesmo…

AA: O que acha dessa nova “moda” por meio da qual atores e atrizes de televisão, despreparados para a dublagem (na maioria dos casos), dublam em produções como Dinossauros e A Era do Gelo? Qual o motivo disso?

MR:A intenção foi, no princípio, trazer mais público para as salas de cinema na tentativa de que as vozes dos atores consagrados, os chamados “stars talents”, aumentassem a bilheteria… No início foi assim… Mas depois, com alguns trabalhos sofríveis de alguns deles, o público mostrou que não interessa se o fulano ou a sicrana na telinha estão por trás da coisa, o que interessa é o ator fazer um bom trabalho… Não sou contra os colegas que nunca dublaram fazerem dublagem… Senão, alguns colegas que hoje vivem de dublagem não estariam aí ganhando o seu pão de cada dia… E nem sou contra que ganhem muito dinheiro para fazerem o que normalmente fazemos por 90% menos… Sou contra nós, atores em dublagem, ganharmos uma merreca pra fazermos o nosso trabalho qualificado, enquanto um colega não qualificado ganha imensamente mais… Merecemos um valor mais justo… Não quero 10 mil dólares, porque sei que minha imagem não vai ajudar a fazer a propaganda do filme, mas quero mais do que os 600 e tal que me pagam para contribuir com a distribuidora no aumento de bilheteria para a grande massa de público-alvo… Eles ganham rios de dinheiro no meu país e nós que contribuímos para isso nem participamos do sucesso…

AA: Eu tenho conhecimento de que você foi o dublador do Shrek, originalmente. Dublou o personagem em todo o desenho, contudo, na “hora H” alguém escolheu Bussunda para “substituí-lo”. Mauro, por que esse tipo de coisa acontece? Isso foi um desrespeito com você!

MR:Meu irmão, me sinto pouco à vontade para falar sobre isso… Faço valer o meu direito pela Quinta Emenda!!! (Sempre quis falar isso num filme!).

AA: Por favor, nos dê os nomes de um dublador e de uma dubladora que sejam seus ídolos.

MR:Eu tenho amigos, colegas de profissão que são meus ídolos pelo que representam na categoria e pelo que fizeram, pioneiros ou não, para firmar e abrilhantar a nobre arte da interpretação sincrônica!!! Todos somos ídolos, com quem aprendemos e temos admiração pelo talento!!!! Meu ídolo é a interpretação, capacidade que o ser humano tem de expor-se e modificar seu destino com a contribuição dela…

AA: Mauro, qual o futuro da dublagem brasileira? Ainda somos os melhores do mundo?

MR:É triste ter que ler ou ouvir os detratores de nossa profissão, muitos colegas de trabalho, que numa atitude aculturada acham sempre que o que é feito lá fora é melhor… Somos sim, uma das melhores dublagens do mundo, mas, em contrapartida, somos uma das mais mal remuneradas… Como categoria, ainda vamos lutar muito para tentar valer nossos direitos… Mas o que temos que ter consciência é que, daqui a 30 anos, o que nós fizemos será apagado em razão do desenvolvimento da tecnologia do áudio e acabaremos como nossos colegas do passado, que seus trabalhos maravilhosos estão sumindo pelos caminhos digitais… Temos que ter orgulho do que fazemos, para sabermos que o que temos que conquistar tem que ser agora, porque, depois, o que fizermos será esquecido… Ou apenas lembrado por algumas pessoas… O futuro da dublagem tem que ser agora…

AA: Gostaria de saber como é a relação do Mauro Ramos para com os fãs dele. Ele curte tudo isso ou é apenas trabalho? Você mantém contato com seus fãs?

MR:Sempre que possível mantenho sim… São os fãs que irão perpetuar nosso trabalho, mesmo depois de mortos, mostrando o que fizemos, mesmo que já não haja mais a lembrança sonora… Meu trabalho é minha vida… Agora, só não gosto das pessoas que não têm “Semancol” e se tornam inconvenientes… Mas, graças a Deus, elas não são a maioria…

AA: Por favor, conte-nos um caso engraçado que tenha acontecido a você durante as dublagens.

MR:Muitas coisas acontecem… Pivôs que saltam em horas erradas, iniciantes que querem falar nos fones de ouvido, gente que cai de cadeiras, cacofonias ditas sem que se perceba (exemplo: “Você tinha que estar lá!” – fala depressa, que acaba lembrando um órgão feminino, que por sinal aprecio muito!)… E tente dizer depressa e de uma vez: “Todos os Generais dos Exércitos dos Estados Unidos” pra você ver só!!! Com farofa na boca fica hilário!!!

AA: Apesar de ter dublado – e ainda dublar – muitos desenhos, também dublou / dubla alguns atores, como o Bob Hoskins. Qual a diferença essencial entre dublar personagens de desenhos e personagens de “carne e osso”? De qual tipo de dublagem gosta mais? O que te desafia?

MR:Gosto de dublagem, não importa se pra desenho ou pra filme… No desenho você pode criar mais, por causa da interpretação caricata, jocosa no geral… Num filme você tem que mostrar seu trabalho de interpretação, ora mais naturalista, ora mais clássica, dependendo da produção… Alguns colegas preferem dublar filmes, outros desenhos… Eu não… Manda um garçom que eu vou dizer – ‘O que vão querer?’ com a maior dignidade!!!!

AA: Qual seu personagem favorito em dublagem?

MR:Foram Pumbaa e Sully em desenhos… Pumbaa é a pureza, a criança, a lealdade, a amizade pelo amor… Sully é a honestidade, o carinho, o papaizão, a amizade pelo respeito ao outro… E em filmes foi o Obelix do segundo filme francês do Asterix, que dublei recentemente com muita honra…

AA: Como última questão, por favor, mande um recado para seus fãs, Mauro!

MR:Obrigado a vocês pelo carinho e o prestígio… E não esqueçam: vocês são os consumidores de nossos trabalhos, nossos produtos… Cobrem o melhor para vocês… País civilizado quer filmes dublados!!!! Um grande abraço de Mauro Ramos…

E se é RAMOS, voltamos e consertamos!!!


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