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Clones. A volta de Norman Osborn. Mais clones. A morte e a ressurreição da Tia May (que não era um clone, mas um ser "geneticamente alterado"). Mais alguns clones. A morte e o retorno da Mary Jane. E, para completar, um clone da Gwen Stacy (sim, eles conseguiram macular a melhor história do aracnídeo). Quem lê as histórias do Homem-Aranha há tanto tempo quanto eu, sabe muito bem que as recentes histórias do nosso "amigo da vizinhança" estavam indo de mal a pior… No entanto, tudo começou a mudar com o anúncio de J. Michael Straczynski como o novo escritor regular do personagem, capitaneado pelo novo editor dos títulos aracnídeos, Alex Alonso, que trabalhara anteriormente com os títulos Vertigo. Finalmente teríamos bons roteiros nos gibis do Aranha? E eu digo, com satisfação: estamos no caminho certo!!!
Além de roteirista do sensacional gibi Rising Stars, da Top Cow, Straczynski é criador do seriado Babylon 5 (imaginei que você fosse lembrar). Por mais que eu não seja exatamente fã da série, devo admitir o potencial do garoto. Mas apesar de começar bem, acertando (E COMO!), em alguns aspectos, ele erra em alguns outros – não é nada grosseiro, mas ainda incomoda um bocado… Como eu disse: um bom começo, mas ainda tem muito o que melhorar.
Exatamente por isso é que gosto de analisar este primeiro arco da era Straczynski sob dois aspectos. Vamos lá:
1) PETER PARKER – "Acho que a razão pela qual a revista do Homem-Aranha tem fracassado é porque o personagem principal tem se tornado irrelevante", disse Straczynski, em entrevista à revista "Wizard". E nesse sentido, ele acerta bastante. A vida de Peter desmoronou completamente. A separação de Mary Jane deixou o cara completamente sem rumo. Barba por fazer, ele se veste como Homem-Aranha não só para combater o crime, mas também para esquecer dos problemas e relaxar enquanto se balança pelas teias. A situação no Clarim também não está boa. A grana está realmente curta, mas ele vai se virando aos pouquinhos, morando definitivamente sozinho, sem a companhia de Randy Robertson (filho de Robbie) ou os paparicos da Tia May. Mas um buraco ficou em sua vida… Como preenchê-lo?
O resposta surge quando ele resolve visitar a escola na qual estudou a vida inteira, a Midtown. Peter dá de cara com um banho de anos 90 – paredes grafitadas, violência, garotos problemáticos. Tipo "Gangsta’s Paradise", entende? É uma das formas, segundo o escritor, de trazer o personagem para a cultura adolescente dos dias de hoje. E quando conhece o jovem Joey Castone, um pequeno nerd mal-tratado pelos grandalhões de sua classe, o Sr.Parker se lembra de alguém… e acaba se tornando professor de química na escola!!!! 🙂 Uma virada bastante interessante e que eu sempre tinha imaginado. E detalhe: é trabalho totalmente voluntário, o que o coloca cada vez mais no ambiente urbano ao qual Peter (e o Homem-Aranha) sempre pertenceram: marginais, drogas, problemas familiares… Neste aspecto, bola muito dentro do novo escritor.
2) HOMEM-ARANHA – Tudo bem que Peter voltou a ser o foco da história… e isso é ótimo. Mas em algum momento tem que se falar do Homem-Aranha, dos atos de heroísmo do vigilante fantasiado. E é aí que Straczynski perde um pouco a mão. E é aí que vem aquele detalhe insólito: a tão prometida surpresa, a resposta para uma pergunta que os fãs vinham se fazendo "há décadas". E esta resposta vem na figura de… Ezekiel. Este novo personagem é um velhusco que tem rigorosamente os mesmos poderes do Aranha e parece ser muito mais sobre sua vida do que ele mesmo. E vem a tal pergunta, que deixa Parker com a pulga atrás da orelha: "A radiação permitiu que a aranha lhe desse seus poderes ou a aranha já estava tentando lhe dar seus poderes e acabou morta pela radiação?".
Segundo Ezekiel, Peter seria um ser que, como tantos outros com o passar dos séculos, tem os tais "poderes totêmicos": habilidades que preencheriam o espaço entre os seres humanos e as outras espécies. É um conceito meio esquisito, vá lá, mas tem tudo a ver com heróis e seus poderes relacionados aos animais. Na verdade, a teoria acaba ficando um pouco vaga, no ar, ao final deste primeiro arco de histórias. Não é nenhum pouco conclusiva… graças a Deus! Simplesmente porque, apesar de interessante, é um conceito que nada tem a vem com o Aranha!!! Concordo com o Fanboy quando ele diz que as pessoas tem que parar de tentar mexer com a origem dos personagens. Foi uma maldita duma aranha radioativa que picou o Peter quando era adolescente? Caceta, deixa a coisa lá, no passado, mania de querer revolucionar e mudar um clássico que é, antes de tudo, inocente. Esqueçam coisas espirituais e místicas: o Aranha é um herói cheio de problemas sociais, puramente NY… Ainda bem que o Sam Raimi entendeu isso!
Ah, sim, ainda temos um novo vilão: Morlun, uma espécie de vampiro ancestral que se alimenta destes "poderes totêmicos". Assustador, carismático e ao mesmo tempo divertido… mas outra boa idéia desperdiçada.
Como última lembrança, vale falar sobre a arte de John Romita Jr., que cada vez mais acerta a mão nos traços do Cabeça-de-Teia. Seu Homem-Aranha agora é mais magro, esguio, com mais leveza e agilidade nas cenas em que se balança pelos céus de NY. Parece que ele andou fazendo a lição-de-casa e aprendendo com o papai famoso, não é? 🙂
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