Para aqueles que conhecem o trabalho de Genndy Tartakovsky em O Laboratório de Dexter, vai estranhar pacas a nova criação desse rapaz simpático que saiu da Rússia quando ainda era um pivetinho e hoje é um conceituado criador e diretor de animação.
Samurai Jack narra a história de Jack, um samurai de algum lugar do Japão há alguns séculos atrás. Sabe-se que é Japão devido às referências visuais do desenho, pois isso não é mencionado em nenhum momento do desenho. Quando Abu, um demônio transmorfo, retorna das profundezas e domina a vila onde Jack, ainda menininho, reside com seus pais, o garoto é levado pela mãe para longe da vila, a pedido de seu pai, o imperador local.
O grande barato da história de Jack é justamente a criação do menino depois deste evento, contada magistralmente no primeiro episódio: entregue pela mãe para um navio mercante, Jack começa a rodar o mundo, passando por diversos países (Egito, Africa, Mongólia e muitas outras) e aprendendo muito com cada uma delas, seja
estilos de luta, como navegar pelas estrelas, como cavalgar…
Jack cresce e finalmente está preparado para enfrentar Abu. Nesse tempo, Abu já conseguiu dominar muito mais do que simplesmente a vila de Jack. No confronto, Abu é quase destruído e, como último golpe, consegue enviar o samurai para o futuro. Jack, então, se encontra em uma selva de pedra, com prédios altos, máquinas voadoras, criaturas estranhas, cachorros que falam e outras bizarrices. Isso sem falar que Abu agora domina a Terra, além de tocar o terror em diversos outros planetas. Agora, o samurai tem que achar um jeito de derrotar o vilão e voltar à seu próprio tempo.
Não dá para deixar de notar que, à primeira vista, a história pareça aquele clichezão clássico de cinema. Mas Samurai Jack não é tão raso assim. E um dos verdadeiros trunfos de Tartakovsky em contar a história de Jack é a narrativa.
:: Narrativa?
Samurai Jack não é um desenho de ação. Pelo menos não em grande parte. Os três primeiros episódios são completamente diferentes um do outro, e a tal ação só chega mesmo com tudo no terceiro episódio. E, diferente do que acontece com a maioria dos desenhos animados, ele não faz parte daquela fórmula "ação-drama-diálogos bem sacados-mais ação". Graças a Deus!
No primeiro episódio, por exemplo, não há quase nenhum diálogo. Guilherme Briggs, dublador de Jack e de personagens clássicos como Freakazoid, Babão e Optimus Prime (Transformers: A Nova Geração), só mostra sua técnica lá para o segundo episódio. Apenas alguns comentários do pai de Jack e de Abu no começo, e mais algumas linhas no final. De resto você fica maravilhado com a história do pequeno Jack, viajando o mundo, crescendo e aprendendo com as diferentes culturas. É espetacular. Já no segundo episódio, Jack é apresentado ao mundo do futuro por um grupo de cães falantes arqueólogos (vai saber o que se passa na cabeça do Tartakovsky), que mostram um pouco do mundo sob o comando de Abu. E, para os que gostam de muita ação, explosões e máquinas, podem esperar o terceiro episódio, no qual Jack luta sozinho com um exército de robôs-besouros enviados por Abu. Um episódio inteiro apenas com isso, praticamente zero de diálogo, e visualmente embasbacante (notem a estratégia de Jack para derrotar os bichos).
:: Para crianças?
Eu não posso falar mais nada sem parecer redundante. Jack é sensacional! Animação primorosa, história muito bacana… mas, será que a molecada vai gostar?
Um fato não pode ser deixado de fora: embora eu tenha gostado muito do desenho, muito mesmo, fico pensando – já que o foco da Cartoon Network é a molecada – se o timing do desenho não vai matar a criançada de tédio. Vendo esse desenho me lembrou um pouco
quando, lá pelos meus doze anos, eu arrisquei de ver "Blade Runner – O Caçador de Andróides" (é, aquele com o Harrison Ford), e desliguei depois dos 20 primeiros minutos. O desenho é uma poesia, por assim dizer, e poesia não se faz mostrando tudo de uma vez só, apertando tudo no espaço de 21 minutos (que é o tempo de um episódio).
Nos EUA, o desenho realmente está fazendo um pusta sucesso. Tanto que o diretor Brett Ratner (de A Hora do Rush 1 e 2 e Red Dragon) já assinou contrato com a Cartoon para produzir e dirigir uma versão do samurai em carne e osso para a tela grande. Os brinquedos estão vendendo muito bem, e a audiência cresce a cada episódio, e a expectativa têm crescido com a segunda temporada, que estreará em breve.
Mas nota-se que o público real de Samurai Jack são justamente marmanjos da faixa dos 20 anos. É um fato.
:: Traduzindo…
Traduzindo? Oras, se você ainda não viu Samurai Jack na Cartoon, que estreou semana passada e que será transmitido todas as sextas às 19 horas, você não sabe o que está perdendo. Cenários magníficos, animação melhor ainda e o principal: uma história cativante e poética. E tudo isso feito pelo insano criador do "O Laboratório de Dexter". Nem por isso as referências ao desenho do pequeno cientista não estão presentes. É só prestar atenção que é possível notar. E pode deixar que eu vou atrás da opinião da molecada, agora fiquei curioso…
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