Meus caros internautas, voltei com tudo. Peço que, antes de qualquer coisa, vocês leiam este texto – uma crítica do jornal “A Folha de São Paulo” para o filme “O Senhor dos Anéis: A Sociedade do Anel”, assinada por Inácio Araujo. Cliquem aqui para abrir a janela com o texto.
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Leram? Muito bem. Agora, imaginem a seguinte situação: o dia é 1º de janeiro. A redação de um grande jornal em polvorosa, o circo pegando fogo na Argentina e metade da equipe não voltou do Ano Novo…e eis que o editor do caderno de cultura se dá conta de que ninguém escreveu a crítica do grande lançamento da semana, a primeira parte da trilogia “O Senhor dos Anéis“. “Ei, você!”, diz o editor. E lá está aquele repórter, atolado de trabalho, tentando fingir que não é com ele. “É, você mesmo. Me escreva pra agora mesmo uma crítica d’O Senhor dos Anéis”, manda o editor. “Mas eu nem vi o filme!”, se defende o cidadão. “Não interessa! Procura alguma coisa na internet e manda bala”.
É desta forma que imagino ter sido escrita esta crítica, um dos textos mais boçais e irresponsáveis que já li num jornal tão bem-conceituado como é a Folha. Tá legal, é óbvio que a coisa não aconteceu assim…mas a primeira impressão que tive é que o nosso simpático crítico nem sequer tinha assistido ao filme, preferindo rotulá-lo de forma tola e metida a intelectual. Senão, como explicar um texto que já erra pelo título: “Eu acredito em duendes” é chave para razão de “O Senhor dos Anéis”. Segundo o texto deste senhor, o filme de Peter Jackson pega carona na atual “moda” que é a magia no cinema. O que é, sem sombra de dúvida, uma bobagem sem tamanho para se dizer.
Quero é esclarecer que, em nenhum momento, estou querendo dizer que ele TINHA que gostar do filme. O cara está plenamente no direito de não ter curtido a obra em questão (o que já seria, na minha opinião, uma loucura, mas tudo bem…). Mas o mínimo que eu esperava era uma argumentação coerente. Um crítico é um formador de opinião, carrega uma importante responsabilidade, que vai além do “não gostei e pronto”. O Sr.Inácio passa nitidamente a impressão de que não vai muito com a cara do tema “fantasia”, por isso não gostou do filme…e portanto ele seria “ordinário”. Uma lógica que simplesmente não cabe nos preceitos do que é ser um jornalista. .
O segredo deste cavalheiro fica explícito rapidamente: ele é mais um daqueles críticos que odeiam a “indústria capitalista do cinema hollywoodiano”…ou outros papos assim. Para um sujeito assim, um bom filme tem que: .
1) Ser francês ou europeu – os iranianos também estão na moda;
2) Estar filiado ao Dogma 95 (se você quer saber o que é, me mande um e-mail que eu explico)
3) Ser completamente non-sense
4) Desconstruir a estrutura narrativa (embora muitos nem saibam o que isso quer dizer)
5) Ser exibido em Cannes ou em Berlim
6) Ser exibido apenas e tão somente fora do circuito comercial, em salas de cinema tipo o Espaço Unibanco
Isso é ser moderno. É ser cool, descolado, ser underground. Cinema americano? Só os clássicos dos anos 20, anos 30. O resto é tudo “comercial demais”. E não pense você que este gênero de crítico é muito raro: nossos veículos de comunicação estão infestados deles! Um “blergh” bem grande para estas pessoas, que só posso rotular como…CHATOS. .
Nem oito, nem oitenta: eu adoro filmes iranianos (“Salve o Cinema” é belíssimo), gosto do cinema francês (Godard, principalmente), mas sei muito bem desligar o pensamento puramente racional e artístico e me deixar envolver pela emoção de um bom blockbuster americano. “O Senhor dos Anéis” é cinema-pipoca sim…mas muito acima da média dos filmes do gênero. Tem um excelente timing, boas atuações, uma direção de arte primorosa…viu só? Esta não é uma crítica do filme…e acabou virando uma crítica melhor do que a sua, meu caro senhor. .
SERÁ QUE VOCÊ NÃO ESQUECEU NADA, SEU INÁCIO?.
Quando digo que, jornalisticamente, este senhor foi um irresponsável, é porque ele esqueceu de um pequeno detalhe: a adaptação. Pois é, ele sabe muito bem disparar seus petardos, mas se esquece de dizer que o best-seller de Tolkien é, além de um dos livros mais importantes da história da literatura (isso não sou eu quem diz, mas os críticos literários do mundo todo), o fundador do gênero “fantasia”, que permeia boa parte da produção cultural pop que conhecemos até hoje. O mínimo que ele deveria ter feito, por mais que tivesse detestado o filme, era admitir que se tratou de uma adaptação primorosa, que soube dar vida ao universo de Tolkien sem cometer o que o El Cid apelidou de “Pecado da Ultra-Fidelidade”, tão presente no “Harry Potter” de Chris Columbus. .
Mas…eu acho que ele também não leu o livro. Para ser sincero, duvido até que ele saiba quem diabos foi o Tolkien. O que, jornalisticamente, é irresponsável: em sua obrigação de formador de opinião, ele falhou. E em sua obrigação de informar o público, falhou também. Tsc, tsc, tsc… .
ACHEI A RESPOSTA: O INÁCIO É UM TROUXA! 🙂
Claro! Bastou recorrer aos livros de “Harry Potter” para encontrar o motivo de um texto tão amargo, tão rancoroso… Ele é um trouxa! Um indíviduo não-mágico, que se recusa a acreditar na magia! Só assim se explicaria o trecho abaixo, emblemático (além do fato de ele chamar “anões” de “duendes”, mas…sigamos em frente): .
“”A Sociedade do Anel” é, evidentemente, um filme para esse mercado. A acumulação de dados e elementos implausíveis dá o tom. Desde o início, pede-se ao espectador que se abra incondicionalmente à credulidade, quando se explica o inexplicável: a criação e outorga dos anéis que movem a história e, em particular, deste que é o centro do filme: o anel do mal, capaz de enfeitiçar até os bons, mas cujo destino é reencontrar e servir ao mal e dar-lhe o poder de dominar tudo”..
Diz ele, logo de cara, que “Mais vale renunciar logo de cara a saber o que é um hobbit, ou o que venha a ser a Terra-média em que se desenvolvem os acontecimentos”. Claro que sim. Ele tem medo da magia. Acha que é “patético” se entregar ao inexplicável, àquilo que não é palpável e não está ao alcance de suas mãos. Mas é claro que é um filme que pede a credulidade do espectador: é pura fantasia! Nada daquilo é real! Se o cara vai ao cinema esperando alguma coisa com embasamento histórico, pode guardar o dinheiro e voltar pra casa, porque tudo se passa numa outra Terra, diferente da nossa! Ele fala em “elementos implausíveis”. Mas é claro que são implausíveis, meu querido: no mundo real, não existem anéis mágicos e nem espadas contra orcs (até porque também não existem orcs). Mas é isso que faz a magia do cinema: tornar real na tela a imaginação do autor do livro. Tornar palpáveis, nem que seja por meras três horas, elementos de um mundo mágico e irreal. .
No entanto, a expressão mais maravilhosa da crítica do Tio Inácio Dursley é “inflacionar a imaginação de forma desmesurada”. Ah, pelamordedeus! O filme é pura imaginação, porque assim o é o universo de Tolkien! O que você queria, cacete? Que o Peter Jackson fizesse um filme substituindo os hobbits por operários e os elfos por executivos de Manhattan? Imagina só o Elrond de terno e gravata, com uma pastinha na mão – ia ser o próprio Agente Smith do Matrix! .
Por isso ele diz que gostou de “Harry Potter”: porque é um filme que descreve “situações não-excepcionais”, misturando a magia ao mundo real. Jesus, fico imaginando o que este sujeito deve ter pensado quando viu “Guerra nas Estrelas”. É mais um daqueles que sentam do seu lado e ficam destilando pérolas como: “Putz, que mentirada, imagina só que um ônibus conseguiria saltar um buraco deste tamanho?”. Será que ele tem filhos? Como será que ele fica quando o moleque pula de um sofá pro outro dizendo que é o Goku, do Dragon Ball Z? .
Quer saber? Da próxima vez, fique em casa comendo pipoca fria e assistindo aos documentários da GNT. Lá você vai encontrar a vida real. Por sinal, me disseram que vai passar um documentário sobre a vida do Tolkien. Quando souber o horário, eu te aviso. .
A ARCA dá o recado: Está aberto ao senhor Inácio Araujo um direito de resposta, caso ele se veja no direito.
** Tutu Figurinhas escreveu esta coluna ouvindo Hybrid Theory, do Linkin Park
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